domingo, 1 de julho de 2012

[Belizário e Ana, ciganos (VI)]...


1º de julho de 2012
Belizário e Ana, ciganos (VI)
No propósito de distinguir as diferenças de entendimento entre as irmãs ciganas Sulamita e Esmeralda, a respeito dos grandes problemas pessoais que costumam enfrentar nas suas atividades cartomânticas, publiquei semana passada a visão delas quanto à questão da felicidade. Hoje, para encerrar a publicação de tudo quanto pude pesquisar sobre os ciganos do grupo de Belizário, recorro novamente às anotações de José Altino Pereira, completadas com minhas próprias deduções à falta de outras fontes que me pudessem ajudar. 
É verdade que desprezei muitas outras anotações do lendário rábula, algumas delas voltadas para as divergências de avaliação e entendimento de comportamentos e sentimentos, fatos e pessoas entre as duas cartomantes ciganas, porque a maioria dessas dissensões pouco interesse poderia despertar nos dias de hoje, posto que claramente preconceituais, quando não fundadas em erros evidentes e inaceitáveis.
Publico, entretanto, o que elas achavam do amor e do casamento. Do homem e da mulher dentro desse intricado tema que desde Adão e Eva vem produzindo milhares de livros, peças teatrais, romances, obras de arte e em igual quantidade poesias e canções. 
Para Sulamita cujo entendimento a respeito da felicidade é o de que ela é inata, individual, mais dependente do destino do que da vontade humana, o amor só não se torna completo e infinito quando as mulheres não entendem ou não aceitam os homens como eles realmente são.
Esmeralda, por seu turno, acha que a felicidade é construída por cada um de nós e não inata. Pode ser aprendida e não depende de sorte. No casamento, quem mais concorre para o seu fracasso é o homem e não a mulher. São poucos os homens que realmente entendem o coração das mulheres. Viver a dois com felicidade exige que ambos saibam construí-la.
E as duas, segundo se pode concluir das informações que prestaram a Altino, se consideravam grandes especialistas no assunto, dizem que não avaliam sequer quantas mil pessoas já lhes confessaram os problemas que têm em torno da própria felicidade, do casamento, da família e da saúde. Choram, se lastimam, lamentam a falta de sorte, mas são raras as que não culpam alguém, quase sempre os maridos, pela sua infelicidade. Nem mesmo as ciumentas, acusam o ciúme pelo seu fracasso; nem mesmo as infiéis se sentem culpadas. Tudo podia ser diferente se tivessem sorte na vida. Preferem simpatia que prediga sorte a um conselho que lhes clareie o juízo. 
A CIGANA SULAMITA E O AMOR
A grande maioria das mulheres vincula sua felicidade ao casamento como se este não fosse apenas um item do grande leque de acontecimentos que compõe o bem-estar físico e mental – estado de ânimo que se chama felicidade. Se pudéssemos isolar cada um desses itens, talvez o principal deles fosse a saúde, seguido pela ocupação ou trabalho e, em terceiro lugar, pelo casamento e a família.
As mulheres que nada sabem fazer com esmero, cuja única ocupação é pensar no amor conjugal, sonhar com o seu príncipe encantado, coquetear e distribuir charme o tempo todo, estas são as que primeiro reclamam do casamento e da felicidade, pois quase nada sabem sobre os homens. Vão chorar muito e pagar com a infelicidade o preço de não terem aprendido que nenhum homem vive exclusivamente de amor. Um dos mais ilustres e badalados pela História, Júlio César, tinha por paixão a guerra, mas teve quatro mulheres legítimas. Foi amante de Cleópatra, rainha do Egito; amou também Êunoe, rainha da Mauritânia; Postúmia, mulher de Sérvio Sulpício; Lólia, esposa de Gabínio; Tertula, mulher de Crasso; Mútia, esposa de Pompeu e Servília com quem foi pai de Marco Bruto. Todos os homens são mais ou menos assim. 
As mulheres dão pouca atenção às palavras de São Paulo quando disse que o homem não foi criado para a mulher, mas a mulher para o homem. Raramente terão observado que o homem é o mais brutal dos machos, pois é o único dos animais que bate na sua própria fêmea! 
Só há uma salvação para o casamento: a mulher constantemente criar formas novas de amar. Os homens em geral, nesse particular, detestam a rotina.
A CIGANA ESMERALDA E O AMOR
As mulheres tem sido ao longo dos séculos a grande vítima da estupidez dos homens no relacionamento conjugal. Quase sempre dirigem contra as esposas as reações violentas, próprias de temperamentos agressivos, provocadas pelas disfunções sexuais de que são portadores. Procuram escondê-las e disfarçá-las ao invés de se tratarem. Em decorrência maltratam as mulheres, destruindo o casamento ou transformando a relação conjugal em verdadeiro inferno. O mundo está cheio de Dom Juans, Casanovas e outros tantos portadores de distúrbios sexuais, que não podem conviver com uma mulher por muito tempo em virtude de só conseguirem ereção do pênis mudando de parceiras. E não raro se pabulam de forte virilidade, quando realmente são doentes, portadores de disfunções sexuais.  
Homem macho mesmo é o que consegue satisfazer a mesma mulher durante a vida toda.
Os portadores da síndrome do donjuanismo são os maiores causadores da infidelidade conjugal. 
O homem não pode trazer para o casamento práticas sexuais animalescas como a que se refere lenda atribuída ao presidente americano Calvin Coolidge e sua esposa. Ao visitarem fazenda de amigo o casal dividiu-se para ver diferentes lugares de acordo com o desejo de cada um. Quando a senhora Coolidge passava pelo aviário notou que o galo não parava de cobrir as galinhas. Perguntou à moça que a ciceroneava: 'Quantas vezes ele faz isso por dia?'. Ao ouvir em resposta que o galo cobria mais de vinte galinhas por dia, pediu à moça que passasse a informação para o Presidente. Quando este recebeu a informação, imediatamente perguntou à moça: 
— Com a mesma galinha? 
— Não Presidente, cada vez com uma galinha diferente! 
O Presidente não titubeou: 
— Por favor, esclareça isso a minha mulher.
A lição que os homens insistem em não por em prática está nestas poucas palavras de Ella Wheeler Wilcox: “Tudo que for lícito para o homem deve-o ser também para a mulher. Os direitos e os deveres são humanos, porque a moralidade não faz diferença de sexos”.
O amor e a felicidade residem na igualdade de gêneros. Enquanto houver homens que considerem a mulher inferior a eles, quando em muitos casos a realidade aponta justamento o contrário, há grande risco de fracasso do casamento entre esses desiguais por preconceitos machistas.
Infelizmente ainda é muito pequeno o número de mulheres que se dispõem a informar o que de fato pensam e sentem a respeito do homem com quem vivem. Não fosse esse obstáculo, e se a lei trabalhista exigisse do homem casado folha corrida do seu comportamento no casamento, passada pelo órgão competente de vigilância do respeito aos direitos da mulher, poucos tomariam posse no emprego! A mulher e o homem foram criados para o amor e a felicidade em absoluta e recíproca igualdade de liberdade e respeito. Tolerar o contrário é aceitar o retorno à barbárie, inadmissível entre pessoas civilizadas.

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