segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Luto em Caicó e no Rio Grande do Norte

Aos 93 anos, morre Manoel Torres de Araújo

Morre, aos 93 anos, 
Manoel Torres de Araújo

Caicó e o Rio Grande do Norte vestem luto hoje.
Faleceu por volta das 7h o empresário, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Caicó Manoel Torres de Araújo, aos 93 anos de idade, vítima de complicações respiratórias.
Ele estava internado na Casa de Saúde São Lucas, em Natal, desde meados do mês passado, quando sofreu uma fratura do fêmur.
O enterro será em Caicó, amanhã às 16h, no Cemitério Campo Jorge.
O corpo de Manoel Torres será transportado ainda hoje e será velado no Salão Nobre da Prefeitura Municipal, onde ele ocupou a cadeira de prefeito em duas oportunidades.
O prefeito de Caicó, Bibi Costa, decretou luto oficial por três dias.


Com Oscarina, a companheira fiel desde 1942
BIOGRAFIA
O empresário e político Manoel Torres de Araújo nasceu em Caicó em 1918, filho Paulino Batista Pereira Torres e Maria Marcolina de Oliveira Torres, membros de tradicional família seridoense. 
Era viúvo de Oscarina de Oliveira Torres (falecida em 2008), sua companheira fiel e grande parceira de todas as lutas desde 1942, quando os dois se conheceram em Serra Caiada, nas andanças de Manoel no começo de sua vida empresarial.
O casal teve seis filhos: Ozelita, Lígia, Carlos Torres (Galileu), Manoel Torres Filho, Jussara e Marcos (falecido).
Manoel Torres começou a estudar e concluiu o primário em São Fernando. 
Fez o curso complementar no Grupo Escolar Senador Guerra, em Caicó, considerado, à época, a faculdade da juventude caicoense. 
Em 1938 foi morar em Natal para continuar os estudos, mas não concluiu sequer o ginasial como era seu desejo, em decorrência das condições econômicas do pai, um agropecuarista sacrificado que tinha mais nove filhos para criar: Iracema, Polion, José, Francisco, Sebastião, Francisca Jarina, Jandira, Iluminata e Maria.
Em 1941 começou o Curso Comercial, em Caicó, fundado por Monsenhor Walfredo Gurgel e pelo bancário Felipe Nery, primeiro gerente do Banco do Brasil em Caicó. 
Novamente teve de interromper os estudos para assumir outras atividades. 
No ano seguinte, Manoel Torres exerceu a sua primeira função pública ao assumir o cargo de Secretário-Tesoureiro da Prefeitura de Serra Negra do Norte, administrada por Descartes de Medeiros Mariz, irmão de Dinarte Mariz, ex-prefeito de Caicó, futuro senador e governador do Rio Grande do Norte. 
Passou um ano no cargo.
Em 1943 foi novamente para Natal, a convite da empresa João Câmara & Irmãos, na época o maior parque industrial do Rio Grande do Norte no ramo de algodão, com sete usinas instaladas no interior. 
Além de atuar no ramo, Manoel Torres pretendia continuar os seus estudos. 
Não deu de novo: João Câmara, que posteriormente organizaria o PSD no interior do Rio Grande do Norte, aproveitou o talento do jovem caicoense para mandá-lo ao interior, supervisionar as usinas de algodão.
Em 1944, voltou a Caicó, a convite de Polion Torres, seu irmão mais velho. 
Os dois constituíram uma sociedade para transportar mercadorias e vender estivas. 
Os próximos 15 anos de sua vida se passaram em Caicó. 
Em 1959, em sociedade com os irmãos e em parceria com a empresa Irmãos Santos, de Natal, fundaram a empresa Santorres Comércio S/A, para representar a Willys-Overland do Brasil como revendedores autorizados de jeeps, utilitários e peças para o interior do Rio Grande do Norte e sertão da Paraíba. 
Encerrado o contrato com a Willys, a partir de 23 de setembro de 1970 a Santorres passou a representar a Mercedes Benz do Brasil, vendendo caminhões e peças e prestando assistência técnica. 
Até hoje a empresa mantém suas atividades, com filial na cidade de Patos, Paraíba.
Quase que simultaneamente à instalação da Santorres, Manoel Torres, irmãos e outros amigos se associaram e fundaram a Algodoeira Seridó Comércio e Indústria S/A (ALSECOSA). 
Foi uma das maiores empresas do ramo. 
A ALSECOSA entrou forte no mercado de compra e beneficiamento de algodão, industrialização da semente e extração de óleo. 
Manoel Torres ficou como diretor da empresa até 1986, quando a praga do bicudo dizimou a produção de algodão em todo Rio Grande do Norte.


Manoel exerceu quatro mantados de deputado estadual
POLÍTICA
Manoel Torres dedicou boa parte da sua vida à atividade política e desempenhou funções de grande relevância. 
Nunca se ofereceu para exercer quaisquer cargos: sempre foi convocado à luta política, pela população e correligionários, apenas para contribuir para o desenvolvimento de sua terra Caicó.
Em 1945, ao lado dos irmãos, do Monsenhor Walfredo Gurgel, Coronel Joel Dantas, Plínio Saldanha e muitos outros, ajudou a fundar o antigo PSD (Partido Social Democrático), liderado pelo senador Georgino Avelino e por João Câmara. 
participou de todas as grandes campanhas políticas do Rio Grande do Norte. 
No começo com o Monsenhor Walfredo Gurgel, posteriormente com Aluízio Alves e mais recentemente com o deputado Henrique Eduardo e o senador e ministro Garibaldi Filho.
Em 1954, Manoel Torres foi convocado e disputou sua primeira eleição para deputado estadual. 
Foi eleito e reeleito nas duas legislaturas seguintes. 
Participou ativamente da Cruzada da Esperança, em 1960, apoiando a chapa Aluízio Alves/Monsenhor Walfredo Gurgel, governador e vice. 
Em 1966, num gesto de desprendimento pessoal e político que sempre o caracterizou, Manoel Torres abdicou de sua terceira reeleição para dar lugar a José Josias Fernandes, que foi eleito deputado estadual.
Voltou a se dedicar integralmente às atividades empresariais, na ALSECOSA e na Santorres. 
Em 1968, novamente convocado pelo seu partido, disputou a Prefeitura de Caicó pela primeira vez. 
Perdeu por 72 votos para Francisco de Assis Medeiros, numa das campanhas mais acirradas e memoráveis da história local. 
Em 1972, disputou novamente a Prefeitura de Caicó e venceu com 75 votos de maioria o seu adversário Vivaldo Costa, jovem médico recém-chegado à cidade. 
De 1973 a 1976 exerceu o cargo de Prefeito de Caicó enfrentando uma oposição radical à sua administração. 
O seu mandato foi marcado pela austeridade nos gastos públicos e pela realização de obras significativas, como a Rodoviária Manoel de Neném e a implantação do calçamento em dezenas de ruas da cidade.
Depois que entregou a Prefeitura ao seu sucessor Dadá Costa, Manoel Torres voltou às atividades empresariais em 1978. 
Quatro anos depois, novamente convocado pelas bases, Manoel torres disputou seu quarto mandato de deputado estadual e foi eleito para representar Caicó e o Seridó na Assembléia Legislativa. 
Não foi candidato à reeleição em 1986, mas voltou à luta política em 1988 na disputa pela Prefeitura de Caicó, tendo como companheiro de chapa o médico Álvaro Dias. 
O povo lhe deu o segundo mandato de Prefeito de Caicó. 
De 1993 a 1996 voltou à lida empresarial. 
Em 1996, disputou seu último mandato eletivo como candidato a Prefeito de Caicó. 
Perdeu a eleição para o seu mais tradicional adversário Vivaldo Costa, hoje deputado estadual. 
Em 1998 formou, como primeiro suplente, a chapa encabeçada pelo ex-governador Geraldo Melo para o senado da República. 
Geraldo foi eleito, mas Manoel Torres não chegou a assumir o mandato em nenhuma ocasião.
Em 2000, num gesto de extremo desprendimento político – considerando-se a sua rica e vitoriosa trajetória política e a sua liderança pessoal – Manoel Torres foi convocado para ser o candidato a vice-prefeito de Caicó na chapa encabeçada pelo vereador Roberto Germano. 
Nova vitória contra Vivaldo Costa, o eterno adversário político. 
Foi a última eleição disputada pelo velho líder. 
Manoel Torres ainda participou das eleições de 2002, 2004 e 2006, apoiando os candidatos do seu sistema político.
Manoel Torres foi um exemplo de honestidade e honradez para as atuais e futuras gerações de homens públicos do Rio Grande do Norte.

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