segunda-feira, 9 de janeiro de 2012


Os presentes dos Reis Magos


Chega ao fim o chamado tempo do Natal que começa sempre no dia 24 de dezembro e termina na Festa da Epifania que se celebra aqui no Brasil no domingo seguinte ao dia 6 de janeiro, data dedicada aos Reis Magos.
Natal, fundada em 6 de janeiro de 1531, foi, então, denominada Cidade dos Reis Magos, topônimo da sua famosa Fortaleza, sem dúvida o ponto turístico mais visitado no Estado do Rio Grande do Norte. Quem entra na cidade, vindo pela BR 101, passa obrigatoriamente ao lado da monumental escultura dos Três Reis Magos, símbolo moderno da cidade que a eles os seus fundadores dedicaram.
Entretanto, nada mais significativo do que a festa anual dos Reis Magos, realizada no bairro das Rocas, que termina no Dia dos Reis Magos, 6 de janeiro, com uma das procissões mais concorridas da Capital.  A devoção aos Reis Magos é tão forte em Natal, qual a de Santa Joana d’Arc em Paris, Nossa Senhora de Guadalupe na Cidade do México e Sant’Ana em Caicó, RN.
A simbologia que a história dos Reis Magos envolve é de uma importância religiosa das mais diversificada dentro do cristianismo. O conteúdo sobrenatural da epifania da revelação do Filho de Deus aos gentios envolve os mais refinados fenômenos sobrenaturais narrados na Bíblia. E eu adoro lendas e essas histórias misteriosas.
Visionários, astrólogos, sábios, seja o que for, os Reis Magos eram observadores dos sinais dos tempos e conheciam muito bem as velhas profecias.
Hoje em dia pouquíssimas pessoas observam esses sinais, e os poucos que o fazem raramente conseguem interpretá-los corretamente.  E agora, como no tempo de Cristo, são raros os que dão crédito aos profetas.  Todavia os sinais continuam presentes ao nosso redor e nos são revelados, à saciedade, em velocidade eletrônica.  Poucos acreditam, entretanto, no aquecimento global do nosso planeta e nas causas que o provocam! Poucos dão ouvido às vozes do derretimento do gelo nas calotas polares, das catástrofes climáticas que cada vez mais dizimam pessoas, animais e bens materiais; das inúmeras novas doenças fatais que anualmente correm o mundo!
Os Reis Magos eram pessoas muito diferentes de nós.  Criam nas profecias. Logo viram a nova estrela, apressaram-se em partir para Belém, seguindo o caminho que o próprio astro apontava qual verdadeiro e moderníssimo GPS. 
E depois de adorarem o Recém-nascido, quando se preparavam para o retorno tiveram um sonho que os acautelavam quanto a não voltarem pelos mesmos caminhos, pois o rei Herodes tinha decidido prendê-los para saber onde nascera o Menino e mandar matá-lo!  Melchior, Baltazar e Gaspar deram crença ao sonho.  Frustraram os sinistros planos de Herodes.
As profecias anunciavam que o Messias nasceria no reino de Judá, em Israel, na pequena vila de Belém, e que pertenceria à família de Davi.  
A Bíblia elenca quase duas dezenas de profetas e não sei nem quantos são os sonhos reveladores de grandes acontecimentos tais como os de São José ao ser avisado da gravidez divina de Maria e da chegada do momento exato de retornar do Egito com a família.  Quase todo mundo conhece a história fabulosa das habilidades oniromânticas de José do Egito, comprovando, ao contrário do que muitos sustentam, a grande importância dos sonhos proféticos. Dois temas por demais curiosos que a história dos Reis Magos sugere para a produção de textos natalinos, filmes, espetáculos públicos e autos natalinos.
Não é só, entretanto.  A visita dos Reis Magos a Jesus recém-nascido nos oferece também roteiro seguro para a escolha dos presentes que hoje oferecemos aos amigos e parentes.  O presente natalino deve ter seu significado relacionado com a pessoa que recebe e não com a que oferece. Belchior ofereceu ouro, porque para ele o Menino era um Rei; Gaspar ofereceu incenso, porque para ele Jesus era Deus; Baltazar ofereceu mirra, porque para ele o recém-nascido era o verdadeiro Salvador exposto aos sofrimentos comuns a todos os homens.
São, portanto, presentes que podem ser oferecidos a qualquer pessoa, porque todos, ao mesmo tempo, foram ofertados ao Menino Deus. Joias de ouro ou objetos equivalentes, considerado o seu valor intrínseco ou estimativo, originário de qualquer campo da atividade humana, artístico, artesanal ou industrial. Esses quase sempre são os mais caros presentes, mas podem ser também simples e baratos, desde que para o presenteado o objeto tenha valor estimativo indeterminável. Gaspar, que presenteou Jesus com incenso, parece nos indicar que para os religiosos, espiritualistas e místicos em geral, um objeto religioso seja o mais adequado presente de Natal.  E Baltazar, que considero o mais humano dos Reis, ao ofertar mirra indica-nos que devemos presentear com os perfumes, os cosméticos, os vinhos e com qualquer outra coisa que fortaleça a amizade, a admiração e o respeito entre as pessoas. O presente natalino deve ter o valor de um afago, de um beijo e de um sorriso, e não de uma recompensa ou mera formalidade social. 
É importante notar que ninguém deu roupa, brinquedo, dinheiro ou comida a Jesus. E os atuais costumes indicam que a cada ano fica mais difícil o afago, o beijo e o sorriso.  São poucos os que vão ao Presépio para adorar Jesus. 
Depois que estive em Colônia, na Alemanha, nunca mais consegui pensar nos Reis Magos sem me lembrar também da belíssima Catedral de Colônia, onde estão os restos mortais dos famosos reis.
A Catedral de Colônia (foto ao lado) é a maior igreja da Alemanha e também a maior do mundo em estilo gótico. Começou a ser construída em 1248, mas só foi concluída em 1880. Seu interior tem 45 metros de largura e 144 de comprimento. As torres laterais medem 156 metros de altura. Nos pilares do coro estão as imagens dos apóstolos, consideradas as mais importantes esculturas alemãs do século XIV.  O famosíssimo tríptico, que se vê no interior da catedral, obra do pintor Stephan Lochner, tendo como tema central a adoração dos Reis Magos, é considerado a obra máxima da escola pictórica de Colônia.
Outro objeto religioso que desperta a curiosidade de quantos visitam a Catedral de Colônia é a célebre e antiquíssima Cruz de Gero (foto acima), também conhecida como Crucifixo de Gero, possivelmente a mais antiga representação de Jesus crucificado no norte da Europa, produzida comprovadamente entre os anos 965-970. A imagem mede 1,87m de altura e 1,65m de largura. Esse crucifixo seria a imagem mais antiga do ocidente com Jesus morto. Anteriormente Jesus era representado ainda vivo, com os olhos abertos. A cabeça pendente e o corpo sinuoso também não são encontrados na arte anterior. O Crucifixo de Gero tem sido o modelo para a iconografia do gênero ao longo dos séculos.
Todavia, na Catedral de Colônia, nada é mais surpreendente do que o relicário dos Reis Magos, a maior obra de ourivesaria do mundo. A igreja, depois Catedral de Colônia, foi construída especialmente para guardar as relíquias dos três Reis Magos, trazidas de Milão pelo Imperador Frederico Barba-roxa. Com Jerusalém, Roma e Santiago de Compostela, Colônia, a cidade dos Reis Magos, tornou-se ao longo dos séculos um dos lugares de peregrinação mais importantes do Ocidente cristão. 
Quando reflito sobre essas boas e belas ocorrências, sinto muito por verificar que Natal, a ensolarada e encantadora capital dos potiguares e dos Reis Magos, até hoje não conseguiu aproveitar o período natalino, desde o nascimento de Jesus até a celebração da Epifania, para atrair turistas dos quatro cantos do mundo não só para adorarem Jesus como os Reis Magos, mas para conhecerem o verdadeiro paraíso das nossas praias, das nossas dunas e dos nossos dias ensolarados de verão.
Procurador federal e ex-prefeito de Caicó

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